Mais um “blenderismo”. Desta vez investigando look 2D dentro do 3D.

Mais um “blenderismo”. Desta vez investigando look 2D dentro do 3D.
Gosto bastante de 3D e tentei seguir carreira na área. Estudei, fiz especialização, arranjei emprego, mas não fui adiante. Trabalhei com 3DMax, Maya, Softimage. Todos programas pagos. Então conheci o Blender e retomei o ânimo. Além de ferramenta muito profissional, o programa é gratuito e respeitado. Valeu voltar a estudar.
Vou postar alguns estudos, experiências, investigações sob o título de blenderismos. Vamos lá.
Pra começar, uma brincadeira envolvendo partículas: um mundo feito a partir de clips de papel coloridos.
Eis mais um estudo usando uma linguagem das q mais gosto: o low poly.
Não restam dúvidas de q o virtuosismo técnico do 3D atrai multidões. Modelagens e renderings q beiram (ou ultrapassam) o mundo real são uma possibilidade dentro da computação gráfica… mas essa não é a única. Já fui “seduzido” por esse universo do realismo, mas desde cedo vi que não era a minha praia, nunca fui bom mesmo. Entretanto, quando estudei 3D, o low poly ainda não havia ganhado a projeção q alcançou tempos depois. Atualmente é possível encontrar muita coisa bem feita usando essa linguagem como escolha consciente – e não como uma limitação do artista 3D. Pra mim são as duas coisas: escolha de estilo e o reflexo ainda do meu estágio em computação gráfica. Mas não reclamo. Vou curtindo o processo. Com o tempo tudo vai evoluir: minha modelagem vai melhorar, a iluminação, dentre outras coisas, mas por ora os resultados obtidos com a simplicidade do low poly colocam um sorriso no meu rosto.
Uma das características principais do low poly é o uso de uma modelagem bastante limitada, bem poligonal. Para quem gosta de geometria é um prato cheio e faço parte deste grupo. Para “compensar” uma modelagem tão minimalista, a iluminação entra em cena e preenche o conjunto. Materiais simples, geralmente baseado em cores e o resto fica por conta do design das formas.
Há um bom tempo, rascunhei uma história usando as dimensões como tema: em uma terra de bidimensionais, uma figura tridimensional surge e, é claro, divide as opiniões. Os estudos a seguir não são para esta história, mas podem servir de caminho estético para sua realização… um dia quem sabe.
Quando saí de Salvador, meu objetivo era estudar 3D. Aproveitei q havia uma especialização em São Paulo oferecida pelo Senac e encarei o desafio. Em um ano e meio eu havia terminado o curso e estava pronto para o mercado de trabalho de 3D. Estava?
O mundo dá voltas e acabei indo trabalhar na Conspiração Filmes, no Rio de Janeiro. Foi uma boa experiência, mas devo dizer q a “fase” do 3D havia passado. Na verdade nunca consegui fazer algo em 3D de q me orgulhasse ou simplesmente gostasse. E olha q me dediquei.
Em Salvador, comecei a “tatear” usando 3DMax. Em São Paulo, o programa adotado pelo Senac foi o Softimage/XSI. No Rio, tive q aprender um pouco de Maya. Quando dirigi Rockstar e a Origem do Metal, baixei uns tutoriais e fiz algumas coisas usando 3DMax novamente. E só.
Há alguns meses resolvi comprar uns cursos de Blender e ZBrush e os deixei “na gaveta” desde então. Mais recentemente resolvi me dar uma nova chance. Resgatei o curso de Blender, extremamente técnico, mas com o seu valor, pois me deu dicas de teclas de atalho e comandos burocráticos, e tb comecei a assistir às aulas de ZBrush. Como diz o ditado, o diabo não é tão feio como parece, mas precisa de uma boa dose de paciência e perseverança para vencer o primeiro grande obstáculo desses programas: digerir a interface. O Blender é um programa mais “amigável” nas versões mais recentes (para mim q sou iniciante), mas o ZBrush realmente exige dose extra de força. É como andar de bicicleta e depender das “rodinhas” o tempo todo no começo. Um dia, vc percebe q ganha equilíbrio e pede ao pai para tirar as rodinhas da bike (foi assim comigo). Passa-se de fase, ganha-se confiança e… novos desafios.
Desde o período em q estudei e abandonei o 3D até hj, minha bagagem artística aumentou. Ao trabalhar num estúdio de animação, pude ter contato com profissionais excelentes em diversas atividades: exímios desenhistas, arte-finalistas, coloristas… Essa experiência foi se somando ao meu repertório, de forma q ao abrir novamente um programa de 3D, algumas coisas eu já sabia, ou melhor, aquilo que eu não sei não me causou assombro.
Há um bom tempo venho desenvolvendo meus “personagens” baseados em números e conceitos matemáticos. Como cartunista, fui trabalhando um estilo, uma linguagem. Ainda estou aperfeiçoando o traço, o design, mas um universo surgiu e me tornei íntimo dele. Meu desafio então foi migrar esse universo, tão familiar no cartum, no bidimensional, para um ambiente tridimensional, guardando as devidas proporções e características próprias de cada meio.
Até agora o q “sei” de 3D é algo como 3 ou 4 acordes de violão. O q dá pra fazer com isso? Olha, eu não vou tocar MPB ou música erudita com um repertório tão acanhado, mas uma coisa é certa: posso me divertir!
Rabisquei um cartum no caderno e reuni alguns estudos de desenho sobre números q venho fazendo recentemente. Usei esse material como meu primeiro “job” e mesmo receoso da autocobrança, fui vencendo as etapas, principalmente a de iluminação e aplicação de materiais, verdadeiros “fantasmas” da época da especialização.
Fiz a modelagem e os renderings no Blender e terminei a composição usando o Photoshop. Os balões foram aplicados depois. Abaixo algumas imagens do processo todo, bem como o resultado final.
Dia desses, estudando 3D, deparei-me com um questionamento sobre a geometria de um objeto e o resultado obtido após a aplicação de um “modificador”. E se eu mudasse um pouco essa geometria?
Na figura abaixo, os cubos são “aparentemente” iguais, todavia o modo como eu trabalhei a geometria das faces foi interpretada de forma diferente após a aplicação de um determinado modificador. A partir do resultado obtido, tenho condições de usar este ou aquele caminho na hora de trabalhar formas mais complexas. O “problema” é q boa parte das pessoas quer aprender fazendo coisas grandes, complexas, “coisas foda”. Fazer coisas “simples”, “bobas”, quem quer? Quem gosta? Modelar cubo? Fala sério!
Gosto muito do Karatê Kid, o verdadeiro, “the real one” rs. Aquele do Daniel “San” e do eterno “Senhor Myagi”. Daniel queria aprender karatê (na verdade ele queria era aprender a dar porrada). Não ficar encerando carro, pintando cerca. Até na versão contemporânea do Karatê Kid – que ensina Kung Fu (hein?) – o exercício de “tira o casaco, põe o casaco” trazia um ensinamento subliminar: a mente e o corpo aprendendo por vias diferentes.
“Óbvio”? Não sei. Acho q todo estudo deve nos deixar um pouco mais maravilhados. Estudar não apenas para “aprender” e aplicar. Estudar para ter prazer, encantar-se, descobrir pelos próprios recursos. E o aprendizado do outro é patrimônio dele. Qdo conquistamos o “saber”, pode ser a coisa mais simples, é conquista nossa, intransferível. E se ainda não aprendemos, vamos pelo menos nos divertir. Estudar pode ser divertido tb.
Crianças adoram aprender. Ficamos adultos e muitas vezes perdemos essa capacidade. Meu receio é q isso se perca cada vez mais cedo. Felizmente tenho encontrado alguns artistas q estimulam o estudo dos exercícios “chatos”. O discurso é o mesmo: são nesses exercícios q a gente realmente aprende.
Bom, é isso por hoje.