Primeiro Bargue completo (eu acho)

Decidido a estudar o “Drawing Course”, de Charles Bargue e Jean-Léon Gérôme, comecei o exercício de copiar as primeiras pranchas do livro. As quatro primeiras apresentam partes do rosto humano (olhos, nariz e boca, orelha) e alguns perfis simplificados. A cada nova prancha é apresentado um item “novo” para o trabalho. Nas pranchas 1 e 2, tudo é feito usando apenas linhas. Na prancha 3 já temos o uso de um tom para a sombra e na prancha 4 é apresentado uma proposta de “rendering”. Finalmente a partir da prancha 5 tem-se a gradação didática de como o trabalho deve ser feito. E também de forma gradativa o corpo humano é apresentado para ser estudado, começando com o pé.

Comecei com a prancha 1, com várias vistas do olho humano. Também estou treinando usar carvão, um material que nunca trabalhei. Reservei então alguns desenhos para treinar os dois materiais (grafite e carvão). A partir das orientações que tive seguindo os vídeos iniciais do canal The Da Vinci Iniciative, copiei os 12 desenhos para um papel de formato A3. A diferença entre o grupo dos 6 desenhos a lápis e os outros a carvão (além do material, é claro) é que nos desenhos a lápis procurei usar apenas linhas retas (mesmo para as linhas curvas, reduzia essas linhas para segmentos retos), ao passo que nos desenhos a carvão, embora no traçado inicial eu tenha empregado linhas retas, ao usar o carvão, busquei recriar o traço curvo presente nos desenhos originais.

À esquerda, reprodução da prancha 1 presente no livro Drawing Course; à direita, desenhos executados com lápis e carvão.

Pulando a sequência (de propósito), parti para a prancha 5 (mas voltarei às outras, com certeza) e busquei fazer o trabalho completo, isto é, as etapas de “block-in” e “rendering”. Esta última diz respeito ao sombreado, desafio que ainda vai me tomar bastante tempo para aperfeiçoar (o block-in também, estejam certos disso rs).

Na prancha 5 temos os passos que devem ser seguidos para obter o desenho final.
Etapa de block-in terminada. Ao lado, algumas ideias que busquei prestar atenção durante o processo.
Avanço no rendering, preenchendo inicialmente as áreas mais escuras e depois criando as transições com os tons.
Primeiro rendering feito com grafite… cheio de pontos a trabalhar.

A intenção dessas postagens é poder olhar pra trás e ver o percurso desses estudos. É a primeira vez que me proponho encarar o desenho com esta abordagem, mais aprofundada ou seguindo orientações que deram certo para muita gente e q, por diversos motivos, não chegam a todos.

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Primeiro Bargue completo (eu acho)

O primeiro “block-in” a gente nunca esquece

Antes que a gente pense que se trata de um bloqueio em redes sociais, o termo “block-in” refere-se a uma etapa no desenho (e também em outras expressões visuais) em que se estabelecem as linhas gerais do trabalho e que serão melhor detalhadas em etapas posteriores.

Conheci recentemente um livro chamado Drawing Course, de Charles Bargue e Jean-Leon Gérome. Trata-se de uma publicação que reúne quase 200 imagens (originalmente litogravuras) que fizeram parte de um curso desenvolvido e divulgado no final do século XIX. Até então eu nunca ouvira falar deles e vi que algumas escolas que acompanho em redes sociais falam sobre eles e usam o método para ensinar figura humana numa abordagem acadêmica.

Edição “de luxo” do livro de Bargues e Gérome

Nem vou entrar no mérito da necessidade do ensino ou não do desenho acadêmico pois isso dá muito pano pra manga, com defensores e pessoas contrárias a esse pensamento. O fato é que me agrada e acho necessário para o meu momento. Boa parte do método reside na cópia de pranchas prontas, buscando desenvolver habilidades principalmente no que diz respeito a desenhar o que se e não que se sabe. Outro livro que li durante a pandemia foi Desenhando com o lado direito do cérebro, de Betty Edwards, um clássico da literatura voltada ao ensino do desenho. A autora também trabalha a ideia de desenhar a partir do que nossos olhos estão vendo, e não a partir do nosso conjunto de símbolos reunidos ao longo da vida.

Tanto em um livro quanto no outro, o fato é que desenhar é uma atividade que pode ser aprendida e desenvolvida… por qualquer um. É fácil? Ninguém disse isso. Ainda mais em um momento nosso em que a busca por resultados em intervalos cada vez menores virou padrão. Desenhar (e tantas outras atividades) requer tempo e paciência (estas palavras estão na introdução do livro de Bargues e Gerome).

A conversa rende muito e bastante gente já se debruçou sobre o assunto, com mais propriedade do que eu. Aqui, quero apenas registrar os momentos desta etapa na minha vida. Um momento em que me vejo tendo a necessidade de puxar o freio de mão e ter mais foco no estudo, não me influenciando, não me distraindo ou mesmo não me comparando com o trabalho e caminho dos outros.

Nesta empreitada, descobri um canal chamado The Da Vinci Iniciative que traz uma série de vídeos mostrando como realizar um exercício baseado nas pranchas do curso de Bargues e Gerome, desde a etapa de block-in até o rendering (sobre esta etapa falaremos no futuro). Tudo em tempo real (sem edição ou timelapse). Recomendo para quem está interessado em conhecer e se permitir experimentar o método.

“Flagrante” de um momento em que acompanho a instrutora Mandy Theis, do canal The Da Vinci Iniciative, ensinando como reproduzir uma das pranchas do livro Drawing Course.
A etapa de block-in envolve alguns termos usados no método como a ideia de notional space e de envelope. A seguir tem-se a transferência de medidas do desenho original para a reprodução. Tudo merece calma e atenção. Sem pressa.
Após um tempo que muitos considerariam bastante (levei dois dias nesta etapa), finalizei meu primeiro block-in sobre um dos trabalhos de Bargues e Gérome.
O primeiro “block-in” a gente nunca esquece

Uma ajudinha aí

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Já faz um bom tempo q eu queria fazer algo do tipo, mas ou achava arriscado falar sobre o tema ou faltava vontade mesmo.

Não vivo de desenho, mas passo boa parte do meu tempo envolvido com essa atividade. Daí o título desta “série”. Com certeza o assunto pode ter vários desdobramentos, com aprofundamentos. Não é o meu objetivo. Reuni 5 dicas q procuro fazer com regularidade. A lista não é hierárquica, nenhuma dica é melhor ou mais importante q a outra. Talvez sirva para vc ou para alguém q vc conheça e esteja precisando de uma “forcinha”.

Dica 1 – Tenha sempre um caderno à mão

Você pode ter hora certa para treinar o desenho, mas certamente um insight, uma ideia, um “estalo” não vão esperar vc estar com o melhor material, no local local adequado, com o tempo voltado para isso. Tenho ideias vendo TV, dirigindo ou no banco do carona, ouvindo uma conversa entre colegas, dormindo. Acredite, elas virão sem pedir licença ou cerimônia, atropelando seu almoço ou qq outra coisa. Também elementos da paisagem, coisas q vc vê na rua, pessoas, animais vão chamar sua atenção e se vc não estiver preparado para registrar isso tudo, uma hora ou vc vai esquecer ou vai perder os detalhes. Andar com um bloco (e lápis ou caneta, é claro) à mão ajuda a registrar essas ou outras coisas q despertem seu interesse. Tenha mais de um caderno, de tamanhos variados. Alguns vc poderá levar no bolso, outros poderão ocupar sua bolsa ou mochila ou ainda ficar em cômodos da sala, mas acostume-se a ter um caderno próximo a vc.

Dica 2 – Goste do seu traço

Sobre a dica número 1 vc já deve ter ouvido, visto ou lido coisas a respeito. Mas eu não me recordo de ter ouvido coisas similares ao q vou comentar agora (devem existir, mas eu nunca achei). Gostar do próprio traço é uma jornada para a vida. Alguns dias vc vai achar lindo o q está desenhando. Noutros, vai rasgar tudo e nada vai lhe agradar. Vai desejar desenhar como aquele seu ídolo e se frustará pq vc não é ele (e nunca será, acredite). Ainda em outros dias terá um pouco de “paz interior”, pq sabe q o seu traço é único (e é, acredite). Oscilaremos entre bons períodos e outros não tão legais, mas é assim mesmo. Estamos todos aprendendo. Nosso olhar muda, nosso gesto muda, nosso traço também. Aprendamos a gostar de cada uma dessas etapas. Uma coisa q me ajuda muito é o distanciamento. Quando vc tiver mais de um caderno preenchido (olha a dica 1 aí fazendo sentido!), poderá comprovar o q estou falando. Ao folhear meus blocos antigos, admiro os progressos, as soluções q encontro, o qto já caminhei. Pode também rolar aquela sensação de quando se olha foto antiga: q cabelo horrível! como engordei! como podia usar esse tipo de roupa! ufa! estou bem melhor agora. Tudo faz parte.

Dica 3 – Pesquise suas referências

Existe uma frase atribuída a Isaac Newton: Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes. Nosso trabalho sempre terá alguma influência de quem já viveu antes ou tem mais experiência do que a gente. Pesquisar, estudar, compreender a obra dos nossos ídolos ou referências nos ajuda a sermos nós mesmos, mas lembre-se, nada de se comparar ou querer ser um “segundo fulano ou fulana de tal”.
Como comecei com uma frase, tentei verificar a veracidade de uma outra, desta vez dita por um dos Beatles, porém não achei a fonte, mas o texto era mais ou menos assim: quanto mais copiei (copiamos?) Elvis Presley, mais me tornei John Lennon (nos tornamos Beatles).

Dica 4 – Pratique um pouco diariamente

Tá certo, essa aqui é o calcanhar de aquiles. Eu pratico desenho TODO DIA? Não, não dá. Cotidiano, imprevistos, preguiça mesmo, tudo entra no pacote para deixar para o dia seguinte. Recentemente li em um livro q bastariam apenas 15 minutos (no caderno sempre à mão, claro) diariamente para a gente treinar. Veja só, 15 minutos. Quanto tempo a gente passa em redes sociais, por exemplo? Dá uma olhadinha no aplicativo q tem no seu celular q faz isso pra vc e pense a respeito.
Dizem (outra frase q a gente ouve e meio q passa sem comprovar a veracidade, mas tentei também, sem sucesso) q um famoso violonista teria dito: quando não pratico (violão) por um dia, eu sinto a diferença; quando não pratico por dois dias, meu público nota a diferença. Se isso foi dito ou não, particularmente pouco me importa. O fato é q o exercício constante e perseverante é fundamental no desenho (e não apenas nele).

Dica 5 – Treine o desenho de observação

Pra fechar. A menos q vc tenha uma mente prodigiosa, fotográfica, como se diz, desenhar de memória é pra poucos. Ou para aqueles q já praticaram muuuuuito. Na hora de desenhar isto ou aquilo, pegue uma ou mais referências fotográficas sobre o tema, estude, compreenda, decomponha, risque e rabisque. Mais tarde isso ficará na sua cabeça e aí, sim, vc poderá desenhar… de memória.

Fico por aqui. Mais uma vez peço perdão por citar frases sem comprovar a veracidade, mas fiquemos com o conteúdo delas. E agora é só por em prática.

Uma ajudinha aí

E começa 2020…

A brincadeira é velha, mas guarda lá sua verdade. Até a festa do Carnaval, o ano começa meio morno, sonolento (para muitos nem começa direito!). É a época das férias, do descanso muitas vezes merecido, do mercado “adormecido”, dentre outras coisas. Não faço parte desse grupo, mas paira uma certa energia deste tipo no ar.

Sendo vc ou não uma pessoa q se enquadre ou se identifique com esta realidade, o fato é q o Carnaval de 2020 aconteceu no final de fevereiro, mês de ano bissexto, e, no calendário, a festa caiu no dia 25. Hoje é dia 1/3, mas minha vizinhança (e umas tantas outras) estendeu as comemorações e ainda rola uma ressaca de Carnaval. Normal.

Dentre algumas coisas q comecei a pensar (e executar) para 2020, não como “lista de projetos para o ano novo”, mas como parte de um processo natural (assim espero), está o estudo consciente de uma atividade q me acompanha desde a infância: desenhar. Não tem aquela brincadeira: “gosta de desenhar, né? Por que não aprende?” Pois bem, retomei os estudos de modelo vivo (desta vez com um professor medalhão do Rio de Janeiro), comprei um curso de desenhos para principiantes (isso mesmo, principiantes), vasculhei minha biblioteca atrás de livros comprados há muito tempo e já foram dois meses de boa imersão no tema. Minha lista tem outras “disciplinas”, mas não vamos misturar as estações.

O “garimpo”da biblioteca já me rendeu bom material para 2020: o livro do Wucius Wong (já devidamente comentado ainda este ano); e alguns de uma série bem antiga, q saiu pela Editora Globo, o Curso de Desenho e Pintura. Tenho 3 volumes, capa dura, bem impressos e conservados, apesar das marcas do tempo em forma de manchas no papel. Dos 3, aquele mais genérico, com mais cara de “book one” é o A Arte de Ver: cor e perspectiva. Destaco abaixo a capa e a primeira página do livro, com tudo aquilo q eu queria ler neste “começo de ano”.

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Exercício constante, perseverante, paciente e sem alta expectativa. A questão não está na quantidade de horas dispensadas, nem tampouco na grandiosidade dos temas.

Sobre o tempo dedicado ao estudo, vai o conselho do segundo parágrafo do capítulo A importância do esboço (imagem acima): quinze minutos. Pense bem: a gente passa muito, muito, muito mais tempo q isso nas redes sociais. Quando este livro foi publicado, não havia a quantidade de estímulos dispersantes q encontramos hoje. Estamos na Era da Sobrecarga da Informação, com pouco foco para nos dedicarmos ao q realmente queremos, infelizmente.

Quanto ao tema (ou temas), vai o outro conselho de levar sempre à mão um caderno de esboços (informação valiosa presente na mesma imagem “printada”). Se der “branco”, falta de inspiração, bloqueio, basta olhar ao redor e perceber q, para aquele q realmente gosta, desenhar é algo prazeroso e estimulante em si mesmo. A vontade de dissecar este assunto é grande – só me falta o foco para desenvolver – mas algo q tem me ajudado a seguir em frente mesmo qdo estou sem ideias para desenhar é uma frase do artista Bandeira de Mello (o professor medalhão de modelo vivo citado acima): “se vc não consegue desenhar o q está vendo, não conseguirá desenhar o q está pensando” (ou sentindo). Um dos grandes “amigos” do desenhista é o desenho de observação. No livro A Arte de Ver existem diversas sugestões de exercícios simples, mas fundamentais e essenciais, na minha opinião. Até pq diante de um “tema de verdade” (e por conseguinte mais complexo): uma natureza morta, um corpo humano, uma paisagem, um animal, tudo pode ser reduzido a formas simplificadas. Então por que negligenciar o estudo de praticar desenho de coisas simples? Propositadamente deixei uma página aberta de um caderno de esboços meu com duas canecas. Numa das aulas do professor Bandeira ele me disse: acorde, tome um bom café, depois pegue seu caderno e desenhe uma natureza morta com os elementos q vc tem na cozinha.

Quinze minutos, gente. Dá pra desenhar uma caneca, um prato, uma caixa de leite, uma garrafa em quinze minutos. Bora praticar?

Tudo isso não é pra ninguém, mas para mim. A dispersão, a correria do dia a dia, as diversas pequenas atividades q drenam nosso tempo e energia fazem minar nossas forças. O ano ganha novo ritmo após o Carnaval, mesmo: é ano letivo começando (pra quem estuda ou tem filho em idade escolar), é trânsito, é demanda de trabalho… Todavia não custa tentar. E nada melhor q uma “virada de ano” pra começar algo novo, não é? Em dezembro a gente comenta sobre esse post. E ainda em tempo, Feliz 2020!

E começa 2020…

Peleja

1m x 0.7m
3 dias
9 horas

Segundo o dicionário, peleja é uma luta com ou sem armas, uma contenda, uma briga, uma disputa.

Felizmente (ou finalmente) consegui participar de uma sessão de desenho de modelo vivo ministrada por Bandeira de Mello, artista mineiro, de Leopoldina, nascido no final da década de 1920 e ainda na ativa. Alguns dos meus colegas e amigos já passaram pela experiência. Uma sessão, não. Três. Uma mesma pose durante 3 dias, em sessões q duram em média 3 horas (com intervalos, graças a Deus).

Para alguém q teve de se virar para desenhar e cujas sessões de modelo vivo eram para os famosos desenhos de 1, 5 ou 10 minutos, a tarefa de enfrentar 9 horas em uma única pose parece um desafio estafante ou impaciente. Tem lá sua verdade nisso. O primeiro dia foi como se tivesse saído de uma surra. Mente e corpo em frangalhos. Para completar, eu, q desenho no máximo na dimensão de um papel A3 (29,7x42cm), tive de enfrentar quase 1 metro quadrado de papel branco montado em um cavalete (as medidas do papel estão na primeira linha deste texto). A imponência do grande formato. Encaixar o modelo no hiperbólico retângulo já é por si só um desafio. Depois os outros: esboço da forma, anatomia, sombreamento.

Termino o primeiro dia satisfeito por pelo menos ter enquadrado a figura. Mas revendo o resultado, vi q “roubei” nas proporções para encaixar todo o corpo no papel. Não aguentei: pior o erro da paginação do q comprometer a pose e de quebra ainda errar o tamanho da perna da modelo. Resultado: um dos pés ficou de fora. A pose q escolhi é meio nível iniciante: não teve rosto nem mão pra desenhar. Pelo menos sobrou um dos pés para praticar o detalhe. Não q tenha sido fácil. A musculatura das costas é bastante trabalhosa e não me agradou o q fiz.

Só de vida profissional, Bandeira tem mais tempo do q eu de vida. Vencidas 4 décadas desta existência, devo ter 2 delas no ofício do desenho, num aprendizado irregular e sem inconstante. Ao menos o resultado me agradou no final, entre receios, vícios e virtudes.

Finalizo a primeira peleja, q é como Bandeira se refere ao ato de desenhar. Eu acho q no começo é meio uma briga, mesmo. Uma dia a gente ganha a luta, noutro a gente perde., como ele mesmo disse. Mas o importante é a vitória ao fim da batalha. Lutar o bom combate.

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Peleja

Wucius Wong em P5

Não lembro bem quando, mas faz tempo q comprei um livro de capa azul chamado Príncipios de Forma e Desenho, de Wucius Wong, um pintor chinês nascido em 1936, figura de destaque na arte contemporânea chinesa. Realmente eu queria me recordar o motivo da compra, mas o fato é q este é o tipo de livro q eu espero não ter q me desfazer.  A edição q eu tenho é de 1998. Entrei na faculdade de desenho industrial em 1997. E lá se vão mais de 20 anos desde a compra do livro. Atualmente estou numa “batalha”, lendo Sinais e Símbolos, do Adrian Frutiger. Digo batalha pq não se trata de um romance. É o tipo de livro q merece ser estudado. Assim que terminá-lo, quero ler (de verdade) o livro do Wucius Wong. Mas vamos falar um pouco mais sobre este último.

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Capa da edição de 1998, que saiu pela editora Martins Fontes

Todo em preto & branco, o autor chinês apresenta uma série de conceitos e exercícios de expressão bidimensional e tridimensional. O volume único na verdade é a compilação de 3 dos 4 livros escritos por Wong: Principles of Two-Dimensional Design, Principles of Three-Dimensional Design e Principles of Two-Dimensional Form. Ficou de fora o Principles of Color Design (até pq para este uma impressão em cores seria indispensável), mas já tá bom, pois o volume tem mais de 340 páginas. Lendo o prefácio e a orelha do livro, percebe-se uma coisa interessante: a presença da informática como ferramenta de expressão. O autor relata o quanto os desenhos ganharam em celeridade (e precisão) quando os programas gráficos computacionais entraram em cena. Talvez maravilhado com essa possibilidade o autor fizesse tanta questão em apresentar os programas q ele usou. Entretanto o curioso (quase engraçado) é notar q alguns dos programas citados ou não existem mais ou foram modificados, pois as recursos computacionais mudam muito rápido. O livro apresenta informações de escolha de programas, primeiros passos, setup básico de computador. Eu acho essa a parte mais “datada” da obra, quase dispensável para um leitor do século XXI q já nasce imerso em tecnologia.

Mas o material mais importante certamente não é esse. O livro é rico em padrões e composições muito bonitas e atraentes, algo q posso considerar como conteúdo atemporal pois se foi feito à mão ou usando um programa gráfico, o resultado visual é o mais impressionante. Padrões geométricos e figurativos encantam a humanidade desde a antiguidade e são quase um patrimônio da criação humana, tamanha é a sua presença nas mais diversas culturas e civilizações.

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Padrões e composições exemplificam os conceitos do livro. No canto inferior direito da página à direita está a imagem q serviu para um dos meus estudos

Diante dessa pluralidade de possibilidades de execução, pensei: poderia fazer algumas dessas composições usando programação “bruta”? Claro q um CorelDraw, um Illustrator ou mesmo um Inkscape são ferramentas mais amigáveis para fazer tais coisas, menos sofridas até. Todavia o desafio q me proponho é fazer alguns testes, algumas pontes entre o resultado figurativo gerado e os comandos de uma linguagem como “ferramentas” de desenho. Também é uma forma de aprender a traduzir o q vejo e treinar representar além do lápis e papel ou dos programa de computador.

Devo dizer q não é fácil, principalmente pela minha pouca bagagem ainda no terreno da programação, mas são bons desafios e exercícios. Apresento dois deles – q tb podem ser conferidos no meu perfil no Openprocessing.

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Uma das possibilidades que a programação abre é poder gerar figuras animadas, uma vez que todas as imagens dos livros são estáticas

 

Wucius Wong em P5

Uma obsessão pela linha

Eu queria muito ter ainda os rabiscos originais. Não sei se joguei fora ou onde eles estão, mas eram linhas q desenhei seguindo um padrão q era formar triângulos a partir de um traço único. E isso tem anos. Talvez mais de 5…

O fato é q alguns temas me são recorrentes e este não é diferente. Descobri (ou redescobri, pois tenho a impressão de ter visto o trabalho deste artista “em algum lugar no passado”) o trabalho de Ben Shahn, nascido na Lituânia e falecido nos EUA, e q, junto a Paul Klee, aumentam o time de artistas q usam a linha com maestria.

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Paul Klee. Para mim um dos mestres no uso da linha.

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Ben Shahn. Tenho a impressão de ter visto esse trabalho em algum momento da minha vida.

Recordo-me tb de uns exercícios de desenho q eram sugeridos para serem feitos de olhos fechados, deixando o lápis/caneta riscar o papel livremente (usava-se até música em algumas ocasiões) e depois colhia-se o resultado. Geralmente as linhas eram sinuosas, mas eu investigava algo mais “robótico”, experimentando traçados mais retos com mudança de direção usando ângulos. Eram muitas as possibilidades: triângulos, quadrados, hexágonos, polígonos irregulares…

Migrando os suportes, as experiências com o “traço mágico” usando programação vão-me apresentando novos resultados a partir de variações do código, muitas delas incrivelmente simples, mas q resultam belos traçados.

Segue uma variação do exercício, desta vez usando como referência os antigos (e agora refeitos) esboços feitos a caneta sobre papel.

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Rascunho feito a caneta

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Versão digital gerada a partir de javascript/p5

Sem dúvidas – pra mim, pelo menos – apesar da facilidade e interesse nos resultados artísticos obtidos a partir das linguagens de programação, a linguagem do gesto tem o seu poder e fascínio. Para ver o “computador desenhar”, clique aqui e divirta-se!

Uma obsessão pela linha

Rio 40 graus

A primavera resolveu se despedir mais cedo na capital do antigo Estado da Guanabara este ano. Desde domingo último, 15/12, os termômetros registraram altas temperaturas aqui no Rio de Janeiro. É o verão chegando. Difícil manter-se em casa sem uma boa refrigeração, difícil até para estudar, mas vamos lá. Algumas aquarelas, manchas de guache q depois viraram cabeças estilizadas e uma primeira tentativa de representar os telhados q avisto da janela do meu quarto feito à carvão.

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Rio 40 graus