“Cão”derno de desenho

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1.1 Por que estudar programação?

Eu deveria gravar um vídeo, mas não tenho muita intimidade com câmeras. Talvez escrever me ajude a mudar de suporte no futuro e eu grave um depoimento audiovisual. Minha intenção é, nesta série de postagens, contar um pouco como tem sido minha jornada dentro do aprendizado de uma linguagem de programação voltada à produção de conteúdo visual (e audiovisual também).

Comecei a me interessar por programação porque gosto de efeitos visuais. Não me refiro ao termo quando utilizado na indústria cinematográfica, mas ao resultado obtido a partir de uma sequência de instruções (linhas de comando) que pode gerar uma animação, uma imagem abstrata, um filtro aplicado a uma imagem.

Não me recordo precisamente a data, mas a primeira opção que apareceu na minha vida foi o Processing, uma linguagem de programação de código aberto que se destina a artistas visuais, designers ou curiosos sobre o tema. Ele roda em Java e é bastante poderoso. Existe bastante material na internet e muita gente boa ensinando como usá-lo, todavia o material que encontrei está em língua inglesa. Na época em que comecei a estudar, tive muita dificuldade em pensar de forma abstrata e o fato de que os resultados precisavam ser processados (existe um termo mais específico para isso) no próprio editor do código (vc pode fazer o download no site do projeto) foi para mim um dificultador na hora de divulgar os resultados dos estudos, por exemplo.

Deixei isso de lado e fui tocar minha vida. Nesse momento, estudei HTML, CSS e um pouco de Javascript para atender a algumas demandas que apareceram no meu trabalho e para aumentar meu repertório de habilidades (pensando em uma nova posição no mercado ou dar vazão a projetos pessoais). Foi mais ou menos neste período que voltei a estudar Processing novamente. Mesmo sabendo que teria dificuldades em hospedar meus “sketches” online, estava disposto a conhecer mais a linguagem. E foi aí que apareceu o P5, uma biblioteca que roda em Javascript com uma semelhança muito grande com o Processing e que pode “renderizar” o código em um navegador de internet! Era tudo o que eu queria. Como eu já estava estudando Processing, não foi muito difícil migrar de um para o outro. Alguma mudança de sintaxe, alguns termos diferentes, mas não precisei “jogar fora” tudo o que já havia começado a aprender.

E de lá pra cá venho me dedicando ao estudo de P5 e sou grato pelo período dedicado ao Processing. Se precisar voltar a este último, ou assistir a tutoriais nesta linguagem, não vejo problemas, pois, como eu disse, a semelhança entre os dois é bem grande.

Mas por que aprender programação? A resposta é muito pessoal. Mais ainda no meu caso, em que a linguagem que estou estudando não necessariamente me garante renda extra, por exemplo. Convencer as pessoas para aprender algo sem uma aplicação prática imediata não é tarefa fácil e nem sei se é necessária.

De qualquer forma vou deixar dois vídeos de duas pessoas que foram meus primeiros “instrutores”. Neles, os autores respondem à pergunta “por que aprender programação” com mais propriedade do que eu. Estão ambos em língua inglesa, mas espero que consigam entender.

1.1 Por que estudar programação?

“Pela tela, pela janela”

Novembro se despede num sábado de sol aqui no Rio de Janeiro. Aproveito o dia para tirar a ferrugem da aquarela depois de ter visto pela n-ésima vez ontem um documentário sobre o pintor Paul Klee. As aguadas serviram como aquecimento, um “polichinelo” para começar o dia.

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Aquecimento matinal. Ainda voltarei à aquarela. Por enquanto só brincadeiras.

A principal razão de ter optado pelo apartamento em q estou morando é uma espécie de “avanço” na sala com uma boa janela, quase do teto ao chão. Aí montei a prancheta e faço meus estudos tradicionais – o computador ficou no quarto, mas ele também já visitou este espaço, numa espécie de rodízio q promovo de tempos em tempos.

A vista da janela não dá para uma paisagem paradisíaca, bucólica ou algo do gênero. Minhas posses não me permitem isso ainda. Todavia gosto do q vejo: as construções vão-se “achatando” e o efeito final é o de um mosaico de retângulos (algo tb comum em alguns dos quadros de Klee). Há tb telhados em disposição triangular, outro tema q me agrada, mas q são melhor vistos da janela do meu quarto.

Hj arrisquei retratar um pouco desse mosaico, nada ainda com cor, apenas me concentrando nas linhas e massas. Escolho um pedaço da vista e realizo um esboço rápido, fugindo à tentação de riscar detalhes. Em seguida, com nanquim e pincel, busco a síntese com linhas e  manchas. Meu objetivo não ė partir para pintura, mas uso o pincel para gerar texturas e preencher áreas de forma rápida. Ao final, tento abrir luzes com o nanquim branco. O resultado final me agradou. Outros estudos virão.

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Vale destacar q, embora eu tenha usado uma foto para ilustrar o post, o desenho foi feito observando diretamente a cena. Noto uma diferença muito grande entre qdo desenho a partir de uma foto ou do motivo “real”, sendo este último bem mais dificil, por causa da escala dos objetos, a própria ótica e outros fatores mais subjetivos. Em todo caso, as 2 situações são desafiadoras.

“Pela tela, pela janela”

Prato cheio (ou música para os olhos verem)

Esse vai ser um post difícil de começar, pq na verdade eu já queria ir para o meio do texto. Uma forma mais simples de iniciar seria dizer q voltei a estudar processos mais tradicionais de pintura. Sempre gostei muito de aquarela, mas o guache tem me chamado a atenção, principalmente depois de ver bastante coisa de um artista chamado Davi Calil (falei um pouco sobre ele em um post mais antigo). O fato é q ele disponibilizou bastante material em seu canal de YT e eu fiquei estimulado a tentar a nova técnica. Claro q parti para os estudos mais figurativos logo, quebrando a cara ou tendo muita dificuldade para chegar a bons resultados, mas dentre os diversos vídeos postados, alguns se destacam para quem realmente quer estudar: são os de escala tonal.

A princípio são exercícios chatos e monótonos: pintar quadradinhos usando os pigmentos base (ciano, magenta e amarelo), adicionando água, guache branco ou guache preto, criando uma escala com variações cromáticas, partindo de tons mais escuros – a chave baixa – e terminando nos tons mais claros – a chave alta. Fiz um ou outro há um tempo atrás e deixei isso de lado. Todavia vi a necessidade de não pular essa etapa, por mais enfadonha q possa parecer. E na verdade nem é tanto. Enquanto estudava a escala do ciano e do magenta, separadamente, comecei a comparar esse exercício ao dia a dia de um músico, q tb treina escalas com certa periodicidade. É q para o músico, esse tipo de prática já faz parte do processo do aprendizado. O artista visual muitas vezes vai logo para a execução de uma tela, uma pintura, negligenciando por vezes as etapas iniciais, o conhecimento do “alfabeto” do ofício. E isso vale pra quase tudo: quer fazer corpo humano sem estudar anatomia; quer fazer natureza morta sem conhecer composição; quer desenhar ambientes sem conhecer perspectiva…

Criar um quadro, uma imagem, é como tocar uma peça musical. No meio da execução, sua mão (ou sua boca ou seu corpo) deve saber naturalmente como chegar a determinada nota ou acorde. Não dá pra pensar onde fica um ou como montar um acorde menor durante a execução da música. Vc tem q saber. E como saber? Fazendo exercício de escala tonal. E não é uma vez só, não. É com regularidade.

Nos últimos dias estou em casa por causa de uma conjuntivite. A reclusão não me privou de usar a visão e aproveitei o momento para praticar um pouco mais. Seguem alguns resultados dos primeiros estudos de escala tonal com afinco e disciplina. O uso de um prato é meu diferencial, mas serve também para eu entender a “extensão” da escala, buscando cobrir a circunferência da paleta improvisada.

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Farei o registro de outros estudos. Estes últimos foram feitos apenas com o pigmento, água e guache branco. Existem ainda os exercícios usando guache preto. E muitos outros q eu espero ter fôlego e disciplina pra continuar.

Prato cheio (ou música para os olhos verem)

Três posts pelo preço de um

Meu último post foi em meados de outubro e já estamos próximos da metade do mês de novembro de 2019. Algumas coisas (boas) aconteceram em outubro, como a minha primeira participação em um desafio anual chamado Inktober (uma brincadeira com as palavras ink e October, da língua inglesa): a ideia é fazer um desenho – geralmente “a traço” – por dia, durante os 31 dias do mês de outubro e postar as imagens em redes sociais. Eu adiei essa ideia por bastante tempo – a iniciativa data de 2009 e desde então muita gente aderiu ao desafio. Neste ano eu quis tentar, mas fiz diferente: ao invés de desenhar todo dia, eu desenhei nos dias do mês cujos números fossem primos. Mole, não? Nos 31 dias de outubro contamos 11 números primos (2, 3, 5, 7, 11, 13, 17, 19, 23, 29 e 31). E chamei minha brincadeira de Primo nosso de cada dia. Procurei fazer os desenhos me referindo aos eventos comemorados nestes dias ou simplesmente abordando alguma característica/curiosidade dos números. O resultado pode ser conferido no meu Instagram.

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Todos os números q fizeram parte do Primo nosso de cada dia. Embora o número 1 não seja primo, foi importante para dizer quem é e quem não é primo.

Ainda em outubro desenhei para a seção Oráculo, da revista Superinteressante. O resultado ficou bem bacana e ter a chance de ilustrar para uma revista q fez parte da minha infância e adolescência foi como um presente, uma vez q meu aniversário foi em outubro também. Tomara q não siga o mesmo padrão da ocorrência dos aniversários, pois não gostaria de esperar até o ano q vem para participar de novo da revista, mas isso já não está mais nas minhas mãos. As ilustrações estão tanto na versão impressa da revista (mês de novembro) bem como no perfil de Instagram da Super.

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Páginas da seção Oráculo da edição de novembro de 2019 da Superinteressante. Além da abertura, três outras ilustrações minhas estão presentes na seção.

Pra fechar a “trilogia”, algumas páginas resultantes de estudos em guache e nanquim, baseados nas “vídeo-aulas” do Davi Calil,  grande ilustrador e professor de guache na Quanta Academia de Artes. O cara tem um canal no YouTube com 100 vídeos (até então) em “tempo real”, em q ele pinta e dá altas dicas de pintura e desenho. Recomendo muito!

 

Três posts pelo preço de um

Nus estudos

Mais um sábado passou e venho mantendo a promessa de praticar técnicas tradicionais de ilustração, isto é, algo meio “digitaless”.

Devo dizer q, por muito tempo, condicionei estudar com fins práticos. Já comentei q estudar aquarela, no passado, foi movido pelo desejo de participar de salões de humor. Naquela época eu precisava de um “mote” para estimular os estudos. Depois acabei meio q usando isso pra tudo: a necessidade me fazia correr atrás de produzir. Não me refiro à necessidades externas, mas internas.

Ao publicar um story no Instagram mostrando minha mesa de trabalho do dia 2/2, um amigo me perguntou depois o q eu estava aprontando. Eu falei q não tinha nada em mente. Estava seguindo apenas uma meta de começo de ano: praticar, estudar, investigar. Até qdo isso será assim eu não sei, mas vou viver um dia de cada vez. Mesmo assim acabei dizendo q tencionava montar oficinas de ilustração. Mas isso só deverá acontecer mais à frente. E para tanto eu preciso praticar um pouco mais.

Se no passado eu me dizia, por exemplo: “vou fazer um cartum para participar de tal concurso” e isto me dava foco, tirando essa motivação, como fazer? No sábado eu simplesmente estendi os papéis sobre a bancada e… esperei. Nada na cabeça. Rapidamente a mente pragmática começa a zunir e a cobrar coisas como “vc está perdendo tempo”, “vc deveria estar fazendo isso, fazendo aquilo”. Dar ouvido a essas vozes é a pior coisa a fazer. Foi aí q tive o insight: vou riscar uns nus. Desenhei muito nu artístico qdo morei em São Paulo e um pouco qdo trabalhei na 2DLab. É um tema de q gosto muito, mas desta vez eu não iria ligar computador, selecionar modelo e desenhar. Fiz de memória, só para aquecer. Queria estudar pastel e guache. O nu não era o objetivo. E esses exercícios são ótimos, pois eles vão me dando dicas, caminhos, possibilidades para quando surgir um tema de verdade, ou seja, aumentam meu repertório. Após os nus, fiz mais dois estudos e terminei a parte da manhã de sábado.

À tarde a ideia era fazer algo mais objetivo, pois o treinamento “livre” foi durante a manhã. Mais “aquecido”, parti para desenvolver um rascunho antigo. Infelizmente não registrei as duas etapas iniciais: a marcação a lápis e a marcação com guache. Como ainda estou me aperfeiçoando com a técnica, ao cobrir o desenho a lápis com a tinta guache preta, veio-me um sentimento q, na minha opinião, difere o iniciante do veterano: acreditar q aquelas manchas pretas meio caóticas irão se tornar uma ilustração de fato. O iniciante vacila, hesita, quase desiste frente ao “caos” inicial. O veterano tem a experiência a seu favor. Ele sabe q o aparente “desastre” do começo é só um processo para chegar ao final. Eu estou no meio do caminho. Ainda dá desespero ver a técnica ser meio “selvagem”, mas sigo em frente, acreditando e perseverando.

O resultado me agradou e reforça o q relatei acima, isto é, se tivesse ficado com “medo de errar”, q é um sentimento dos mais comuns para quem está começando ou ainda caminhando, não me surpreenderia positivamente com o trabalho final.

Abaixo, alguns registros do que foi mais um sábado entre tintas, papéis e diversão.

 

Nus estudos

Aurora

Tenho me programado para, no sábado pelo menos, dedicar-me à ilustração mais tradicional. É um momento mais experimental, sem criar expectativas ou correr atrás de resultados a curto prazo. Não faz parte de listas de começo de ano, mas calhou de acontecer no início de 2019. A semana é apertada e este é o tipo de atividade q e eu desejo duas coisas: não ter hora pra começar, tampouco hora para acabar. Meio difícil em meio a contextos tão cheios de horários, metas, objetivos. Confesso q isso por vezes me cansa. É a era da (enxurrada de) informação, cada um querendo dizer q seu conteúdo é vital, promissor, revolucionário. A gente gasta tanto tempo escolhendo o quer ver, q não sobra tempo para ver aquilo q escolhemos, quando escolhemos.

Resolvi abrir um dos vários cadernos de apontamentos e desenvolver algumas ideias, alguns rascunhos q rabisquei em algum momento lá atrás. E uma das muitas coisas a aprender: nem sempre vai sair do jeito q eu pensei q iria ficar. Aqui valem várias reflexões. Se eu não conheço ou domino a técnica, estarei ainda à mercê do q vai acontecer, isto é, a técnica ainda “controla” a situação. O remédio é praticar: qto mais prática, mais domínio, menos agilidade, mais controle. Mas ainda há outra coisa: mudanças no design, na forma. Coisas q nasceram no rascunho de uma forma são transformadas pela linguagem. Exemplo: uma estrela a lápis não será a mesma estrela qdo eu usar tinta. Talvez a prática também ajude a aproximar as coisas, mas devo dizer q é mais rico ver como a técnica vai “dizer” tal coisa do que forçá-la a “dizer” como eu quero. Não gosto das palavras controlar ou dominar (embora eu as tenha usado acima). Dá sempre a sensação de q algo ou alguém foi subjugado. Melhor falar sobre concessões: deixar q as coisas sejam um pouco como elas podem ser e me surpreender com os resultados.

A ilustração do fim de semana começou no sábado e terminou no domingo. Em meio ainda às cobranças internas, quase abandonei-a no meio do caminho, mas perseverei. As fotos estão bem melhores q a versão real, o q me estimulou a divulgar o resultado. O objetivo aqui é o processo, a caminhada, a trajetória. E o discurso q nasce disso tudo.

Não costumo batizar ilustração, mas neste caso foi diferente e esta leva o nome do título deste post.

Aurora

Da série “a-riscando pra ver o que vai dar”

Já comentei um pouco sobre este “processo” em um post anterior e confesso q tem sido uma experiência interessante. Basicamente o exercício consiste em riscar o papel sem compromisso e só depois ver o q as linhas sugerem. Claro q as escolhas serão influencidadas por um sem número de fatores, mas o mais legal é partir sem julgamentos. Eu ainda persisto em figurar as escolhas, isto é, fazer as linhas lembrarem formas, mas tb faz parte. Haverá momentos em q não terei mais nem esse desejo e será uma liberdade total. Surpresas boas acontecem qdo estamos tão ligados no motivo principal e não percebemos q outras coisas estão se formando “em paralelo”. O tema original até perde um pouco a importância e dá vontade de se concentrar naquilo q surgiu sem a nossa influência. Soluções de design, formas diferentes, intrusas, acabam aparecendo apenas pq não temos a necessidade de representar este ou aquele tema.

Gosto muito de grandes formatos. Tenho feito esses exercícios em folhas com mais de 70cm de comprimeto por 50 de largura. Isso ajuda a “soltar o braço”, é quase uma “aeróbica”. Risco, troco de mão (sou destro, mas me permito ser canhoto neste exercício), rodo a mesa, me afasto, volto a riscar… O medo da folha em branco meio q desaparece pq estou rabiscando aleatoriamente e quando percebo o papel já está com tanta informação, q basta filtrar e seguir um caminho.

No exercício abaixo a primeira figura a tomar forma foi uma madonna, uma virgem, uma freira… Depois os “vultos de cavaleiros” surgiram à direita do desenho.

Houve uma hora q a luz tb quis participar do processo…

Ao final, ainda surgem uma cabeça (q pode ser de uma cobra ou uma baleia de perfil) e uma raposa à esquerda do desenho, sobre o ombro da figura feminina… tudo isso sem ingerir qq substância alucinógena (rs).

Da série “a-riscando pra ver o que vai dar”